Hoje aproveitei que amanheceu sem chuva pra ir à feira comprar uns ingredientes que faltavam pra salada de bacalhau que eu queria fazer. Acabei levando mais do que o planejado. Não resisti aos morangos, framboesas e cerejas frescas, fruta do conde, tomates holandeses, chalotas, pimenta da síria, ovos vermelhos e biju, tão sedutores...
Mas o super interessante da feira é a experiência antropológica de se rodar por alguns minutos ali dentro daquele universo peculiar e constatar que aquela poderia ser uma feira em qualquer outro lugar do mundo. Feira é sempre feira: os personagens parecem ser os mesmos, só mudam os sotaques e as frutas da época. E parece até haver uma espécie de script e set list do que deve ser repetido para caracterizar uma feira.
Aqui em Santos, os comerciantes do ramo são predominantemente portugueses, o que se nota pelos EREs ao invés de ERREs, pelo cantado das falas, pelo jeito de enrolar as compras no jornal e barbante. Acho lindo. E por isso, o diálogo a seguir (frases ditas e ouvidas ao léu) que registrei na minha visita à feira neste sábado de sol, deve ser lido com pronúncia lusitana. Pode não fazer muito sentido, assim, transcrito, pois as diferentes cenas e assuntos se misturavam numa sinfonia de vozes, brados, cantorias e bate-boca. Mas feira que se preze é assim mesmo.
- Bom dia, princesa!
- Olha a cebola roxa!
- ♫ As andorinhas voltaram...
- E essa menina linda, tão grande, quem é?
- Alho roxo! Alho roxo!
- Tem alho roxo também! É cebola roxa e alho roxo!
- Ah essa aqui eu achei ali na rua e peguei pra mim!
- ...e eu também voltei ♫.