quinta-feira, 16 de junho de 2011

Hoje o dia está bom pra... olhar pra dentro

Até os meus sete anos
A lua era enorme
Branca, branca, branca
E de um brilho sem limites.
Eu era míope e não sabia.
Naquela noite, quando pela primeira vez
Voltei pra casa com um par de óculos na cara
Depois de passar o dia reaprendendo
A ver o mundo
Eu quis ir à janela olhar a lua:
Decepção total.


Mas enfim, acabei me acostumando... até que agora, após 16 anos de lentes de contato, o oftalmologista me recomendou fazer novamente uns óculos, pra dar descanso aos olhos.

Usar óculos, dos sete aos 12 anos, foi uma experiência paradoxal pra mim. Se por um lado eu dependia deles pra saber onde eu estava pisando, por outro, eles me eram uma barreira que impedia ver o que passava por dentro.

A verdade é que pra mim os óculos sempre foram uma espécie de máscara que me aproximava do mundo, enquanto me afastava de mim mesma.

Quando me apresentaram as lentes de contato, um mundo novo se abriu diante dos meus olhos. Agora eu era completa, livre e finalmente podia ser honesta comigo. Eu podia ver, com perfeição, sem necessitar de um estorvo que não se encaixava em mim.

Ao contrário dos óculos rígidos, de lentes duras, de vidro quebradiço e de efeito disforme, as lentes de contato são flexíveis, acompanham os olhos, ampliam o campo de visão e mostram um mundo muito mais interessante. E eu também acabei por me acostumar com isso.

Voltar aos óculos é um tipo de ensaio sobre auto-conhecimento: uma forma de me enxergar imperfeita, limitada, dependente. É aceitar que sou tudo isso, mas que para me ver íntegra, liberta e franca basta mudar o foco. É tudo uma questão de ponto de vista.

Então agora eu me alterno entre as lentes e os óculos, e exercito a aceitação. Pratico a ciência de mim mesma, descubro o que sou, o que quero ser, o que não quero mais. Embora ainda, algumas vezes, eu prefira apenas abrir os olhos, sem lentes, sem óculos... e olhar pra lua.

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